Hoje é um dia especial. Cheguei aos 29 anos desta vida. Em tom de balanço, posso dizer que me sinto mais crescida, mais inteira, mais eu. A cada momento que passa. O conceito de presente tem, para mim, cada vez mais um significado muito profundo e simples. Estar aqui hoje, ter tantas Pessoas que se lembraram de mim e que mostram o seu carinho, ter a oportunidade de partilhar a vida com elas e crescer, devagarinho, é para mim, o verdadeiro Presente.
Deixo aqui uma prova desse carinho, uma demonstração de amor, sublime, como só o amor consegue ser. Este poema de Vinicius de Morais que se segue foi-me dedicado pela minha cunhada Carmen.
Procura-se um amigo
Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos,
basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber
ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol,
da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor,
um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse
amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam
consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que
seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos
são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo
impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de
perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que
isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo
deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e
compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e
lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova,
quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de
orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância.
Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se
viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações,
dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de
água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da
chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a
vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo
para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em
busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou
chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de
que ainda se vive.
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