quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Presente

Hoje é um dia especial. Cheguei aos 29 anos desta vida. Em tom de balanço, posso dizer que me sinto mais crescida, mais inteira, mais eu. A cada momento que passa. O conceito de presente tem, para mim, cada vez mais um significado muito profundo e simples. Estar aqui hoje, ter tantas Pessoas que se lembraram de mim e que mostram o seu carinho, ter a oportunidade de partilhar a vida com elas e crescer, devagarinho, é para mim, o verdadeiro Presente.


Deixo aqui uma prova desse carinho, uma demonstração de amor, sublime, como só o amor consegue ser. Este poema de Vinicius de Morais que se segue foi-me dedicado pela minha cunhada Carmen.



Procura-se um amigo

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos,
basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber
ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol,
da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor,
um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse
amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam
consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que
seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos
são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo
impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de
perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que
isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo
deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e
compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e
lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova,
quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de
orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância.
Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se
viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações,
dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de
água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da
chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a
vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo
para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em
busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou
chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de
que ainda se vive.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Criação (im)perfeita

Quero ler este livro de Marcello Gleiser.

A tal vontade...

Já há muito ando para escrever aqui. E tenho vindo a adiar a minha vontade de o fazer, por razões diversas. Agora, decidi que não vou adiar mais e vou simplesmente ocupar um pouquinho que seja do meu tempo a escrever o que me vai na alma. A lançar palavras ao vento... Com a chegada do Outono, tivemos uns dias quentes, muito quentes, demasiado para esta altura do ano, mas souberam bem. Apesar de alguns momentos muito agradáveis, os ânimos por cá por dentro também esquentaram um pouco demais. Talvez seja necessário de vez em quando. Talvez. Depois, chegou o friozinho e a chuva e o vento, muito. Sabe-me bem, apesar de tudo. Já tinha saudades do Outono, das folhas secas, das castanhas e do aconchego da manta no sofá, com a chuva a cair lá fora. E agora, veio Novembro, está tudo mais calmo cá dentro. E o calor que sinto é mais profundo e meu. Dei por mim, há dias a dizer que considero ser uma pessoa feliz, porque sou inteira. Já tinha pensado isto algumas vezes, mas desta tomei uma consciência diferente do que isso possa significar. Nestes últimos meses, o tão famigerado relógio biológico tocou, toca, tem tocado muito. E o toque tem aumentado de intensidade. Já deixou de ser uma "vontade" externa e um projeto para o futuro, é mais uma coisa cá de dentro, agora. Uma vontade que parece ir além do meu simples gosto (ou adoração?) por crianças e por pessoas em geral. Sinto vontade de criar vida, de transferir algo meu, de passar a um novo nível de sabedoria, essa que penso que só é possível quando criamos um outro ser e quando participamos de modo ativo, no papel principal, na sua educação. Quero crescer mais e mais. E sentir o tal amor incondicional por outro ser humano. O tal amor supremo de que as Mães falam. Como se o resto da minha vida já não fosse suficiente. Será esta a condição humana? Nada nos chega e nada é suficiente? Ou vamos sentindo necessidades diferentes conforme a passagem do tempo e o nosso crescimento enquanto pessoas? Talvez seja isso. Houve um momento de um destes dias em que senti uma sensação muito estranha e inédita em mim: pela primeira vez (que me lembre) senti uma falta de sentido na minha vida que me pareceu abissal. Nesse momento, pensei que a minha morte não seria algo assim tão pouco viável, tendo em conta que nesse momento, não via razões suficientemente válidas para continuar a viver. Como veio, essa sensação também se foi, desvaneceu-se mais ou menos rapidamente. E a tal vontade, vem. Surge muitas vezes. E, de modo autêntico, começa a permanecer. Toda e qualquer vontade similar das pessoas à minha volta não é nada comparada a esta, que é minha. Minha e independente de quaisquer pressões à minha volta e também da restante conjuntura que não é favorável à concretização imediata da minha vontade. Mas isso não importa, pois a tal vontade existe à mesma. Há que aprender a lidar com ela e a esperar pela sua desejada concretização.